terça-feira, 29 de setembro de 2009

Importantes considerações sobre o Dia da Raiva... feitas por associações animais!

O Jornal de Notícias convidou ontem duas dirigentes de Associações Animal para tecer considerações sobre a vacinação anti-rábica, sobre outras doenças que afectam animais domésticos, e sobre o futuro da vacinação em Portugal. (sim, chegou a este ponto!)
Não foram ouvidos ou convidados qualquer organização representante dos serviços veterinários em Portugal, tal como a Ordem dos Médicos Veterinários, a Direcção Geral de Veterinária ou mesmo a nossa Associação.
Se por um lado isto até pudesse ser considerado como uma gaffe jornalística, após leitura da entrevista, verifica-se que as referidas senhoras até falam bem melhor e de uma forma mais assertiva do que muito das direcções veterinárias de Portugal!
Quererá talvez isto apenas manifestar o quadro clínico de desinteresse pelos veterinários de clínica e de saúde pública, tão mal que estes andam representados nas últimas décadas.

Notícia JN:
Raiva está erradicada mas vacina é obrigatória
Doença deixou de merecer atenção, mas ainda é preciso "jogar pelo seguro"
A raiva foi erradicada de Portugal há mais de meio século, mas ainda é preferível "jogar pelo seguro e não descurar" a vacina anti-rábica. Apesar de obrigatória, nem sempre é administrada. Um problema, quando um quarto dos cães não tem assistência.
A raiva é uma doença contagiosa de elevada mortalidade que afecta animais e pode ser transmitida aos humanos. Oficialmente erradicada em Portugal desde 1956, graças a campanhas anuais e sistemáticas de vacinação, justifica a vacina anti-rábica obrigatória.
A presidente da Associação Animal, Rita Silva, salienta a importância de "jogar pelo seguro" e "não descurar a vacina", que, "em muitos casos, não é administrada aos animais domésticos por descuido, falta de informação ou dinheiro".
Por ocasião Dia Mundial da Luta Contra a Raiva, que se assinala hoje, a dirigente lamenta que a doença já não receba a "devida atenção em Portugal", lembrando que "ratos e morcegos podem estar contaminados e infectar animais de estimação", sobretudo cães e gatos.
Apesar da obrigatoriedade da vacina e de o licenciamento de cães nas juntas de freguesia só poder ser feito mediante apresentação da prova de vacinação, Rita Silva critica a "falta de fiscalização objectiva da doença no país, especialmente nas zonas rurais".
A fiscalização "deveria ser obrigatória, também por uma questão de saúde pública" e o "ideal seria a obrigatoriedade de uma vacinação completa", disse, citada pela Lusa. "A legislação devia prever uma vacinação obrigatória contra as principais doenças que podem afectar cães e gatos, entre as quais a esgana, leptospirose, parvovirose canina, piroplasmose, herpesvirose e tosse canil", afirma.
A ideia é defendida também pela presidente da Liga Portuguesa dos Direitos do Animal, Maria do Céu Sampaio. "Salvaguardaria a saúde e o bem-estar dos animais, assim como a saúde pública", justifica.
A dirigente reconhece haver duas orientações divergentes entre os veterinários quanto à vacinação: "Uns entendem que se deve continuar a vacinar todos os anos; outros, apenas de três a três anos".
Ambas criticam o facto de em Portugal se desconhecer o número global dos animais vacinados. Maria do Céu Sampaio defende "um controlo e intervenção mais eficazes por parte das autarquias", as quais devem "proporcionar aos munícipes idosos ou com recursos financeiros limitados a vacinação gratuita dos seus animais".
Um em cada quatro cães não recebe qualquer tipo de assistência médica-veterinária em Portugal, onde a despesa com animais de estimação é inferior em 33,8% à média da União Europeia.

2 comentários:

  1. De facto, a defesa da saúde pública veterinária atravessa uma crise de valores.
    Em contra-ponto, e sem qualquer formação técnica nestas matérias, somos (médicos veterinários e a sociedade em geral) tiranizados pelas opiniões de leigos que insistem em achar que sabem tudo sobre estas questões.

    O diálogo torna-se então impossível e, invariavelmente, sucumbimos às mãos de autarcas mal preparados que não querem saber de animais e muito menos de saúde pública, apenas se interessam por votos (e sentem que assim os ganham, o que é´erróneo).

    A "pérola" (que corre na net para quem quiser ler) seguinte é disso um exemplo:

    "Exm. Senhor
    Recebemos o seu mail que agradecemos.
    Sobre o assunto que nos reporta, cumpre-me informar o seguinte: A Senhora
    Vereadora do Ambiente, Dra. Joana Felício, conhece a situação e está a
    envidar todos os esforços para impedir o abate do animal, existindo, no
    momento, algumas pessoas interessadas na adopção. Contudo, a decisão final
    sobre o assunto será do Senhor Veterinário que se encontra de férias até ao
    final do mês de Setembro. Assim sendo – e não podendo a Câmara interferir
    nas decisões técnicas – o cão manter-se-á nas nossas instalações até ao
    regresso do médico veterinário que, estamos certos, avaliará
    convenientemente a situação, tendo em atenção que se trata de um animal
    dócil e sociável e o número de pessoas interessadas em adoptá-lo.
    Renovando os nossos agradecimentos, apresento os melhores cumprimentos
    M.Espirito Santo"

    Chegamos portanto ao cúmulo gritante de ser uma vereadora que decide (embora na base do "politicamente correcto") se um pitbull é dócil ou meigo, se deve ou não ser adoptado, e em que circunstâncias....

    A saúde pública e a segurança dos cidadãos estão mais do que nunca em causa e nem os sucessivos ataques de matilhas assilvestradas na maioria das localidades nem os índices crescentes de zoonoses como a leishmaniose, a febre da carraça, a leptospirose, o quisto hidático, etc (TODAS subnotificadas) parecem interessar.

    O mediatismo destes temas parece assustar quer câmaras, quer dgv, quer mesmo dgs (que nem se pronuncia sobre estas questões) e continuamos a ter uma população cega, desinformada e não sensibilizada para poder entender estas questões da perspectiva técnica e científica que se impõe.

    De vez em quando, claro, a "Mãe Natureza" encarrega-se de enviar uma pandemia para nos lembrarmos que temos que lavar as mãos milhares de vezes por dia e outros cuidados de saúde e de higiene básicos. (sim, recordemos que o vírus tem algo de ave e de suíno, também...)

    Fora isso, uma população cega, não informada e não sensibilizada, tomará sempre as piores decisões. É, em geral, o que tem acontecido.

    E o mais dramático, é que quem mais sofre, são (também) os animais...

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  2. De facto tudo isto me parece surreal, corporativismos à parte e com todo o respeito e consideração que as senhoras entrevistadas merecem.
    O que sucedeu é quase como a Liga Portuguesa contra o Cancro emitisse opiniões técnicas sobre determinado tratamento oncológico, com a atenuante de esta trabalhar directamente com médicos e técnicos da área.
    Caros colegas da ANVETEM e veterinários no geral, isto só significa que ainda temos um largo caminho a percorrer para a nossa correcta integração na sociedade, num pais de brandos costumes onde tantas vezes e nas mais variadas áreas sabemos que o bom senso e a rectidão é raro imperar.

    Cordiais cumprimentos.

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